sexta-feira, 25 de maio de 2007

Capítulo 9 – Cavaleiros do Fogo da Origem

Como o previsto, entardecera e eles se aproximavam da entrada da vila, essa era deserta. A não ser por um cão magro que espreitava a chegada dos andantes pelo canto do olho, deitado a beira do cruzeiro, que marcava a entrada da vila. Em uma placa os dizeres: “O Fogo da Origem Inda Arde”. Cícero ouvira falar da Festa do Fogo da Origem quando ainda era cabrito. A festa que durava uma semana, era em honra ao Conselheiro, figura mítica, que havia passado pelo sertão pregando à unção do fogo, o fogo criador, a vida que arde. Parou ante ao cruzeiro, se agachando, fala ao cão:

_O que é e o que guarda?

O cão com indiferença volta a deitar a cabeça sobre as patas sardentas. O Cavaleiro pensa então que tem permissão para passar, se levanta pronto a dar a volta pelo pestilento animal. É então que o bicho rosna, mostrando os dentes de demônio. Cícero sorri satisfeito, parando ao lado do cão e segurando o cabo a espada:

_Quem é e o que guarda fio du Cão?!

_Ele não irá responder Cavaleiro – Disse o Andarilho enrolando um fumo – Esta só guardando a entrada, a permissão vamos ter que pedir a outro.

_ E que outro a de ser se viva alma não a nessa vilania?!

_Ao fogo da origem. Aproveitemos o cair da noite.

Dito isso, o Andarilho que tinha alma de bruxo, pegou na mochila uma garrafa, abriu, tomou um gole, e a ofereceu ao Cavaleiro, que de pronto tomou um gole. Era uma cachaça, feita de mandioca, amarga, puba. Jogou então um tanto na raiz de um mato seco. Resmungou alguma coisa e cuspiu. O fogo levantou braçada ao céu, um fogo verde como a alma do encardido. E foi subindo furta-cor até a lua. Beijou-lhe a face, que respondeu brilhando com clarão de um sol prateado. Foi só. Tudo a volta virou meia noite, e o cão mostrou a sua face de morto que teima em viver. Era um corpo podre de um cachorro grande, e na sua cabeça brilhavam sete chifres, nas patas cascos de bezerro, o rabo eram três serpentes e seu nome era Mushussu e era filho de Tiamat, deusa-demônio de um deserto do começo do mundo. Atrás do enfeitiçado, agachada a acariciar os chifres de fogo do cão, uma mulher vestida de escamas, na cabeça dois chifres de cabra, os pés descalços e em uma das mãos uma chave de ouro. O fogo verde envolvia as criaturas e naquela escuridão suspensa, a espada do Cavaleiro brilhava lamuriosa. Um calafrio percorreu a espinha do Cavaleiro. A figura feminina sorria.

_Querem entrar na Vila do Fogo?

A figura disse se levantando. E caminhando como uma mulher da casa da luz foi na direção do Cavaleiro:

_Queremos. Por aqui passou seu pai num foi?!

Ela gargalhou enquanto rodeava Cícero que a acompanhava com os olhos:

_ Não tenho pai, ou mãe, sou o fogo que arde, sou A Criação!

_Demônio de saia de escama e chifre de cabrita nova, vê bem o que profere, o peso de suas palavras são o peso de meu punho.

Ela gargalhou novamente, e parando logo atrás do Andarilho lhe fala ao ouvido, quase um cochicho:

_Vejo que ele herdou suas blasfêmias, mas não sua fala macia.

_Sabes que este não é filho de minha coxa, sou apenas seu escravo.

_Ora, ora, agora tem novo dono, sua sina não muda, e a minha também. Mas me chamou por quê? Seu pupilo ainda não sabe matar cachorro com a bota?!

Ele sorri:

_Sabe que essa vila é leva o nome do fogo, se quiser abrir a porta que o faça, se não, o meu pé vai de encontro aos cavaleiros que vivem mortos.

_Então que seja, sou Djinn, não sou de velar por sono de mortos.

Dito isso a mulher se fez em fogo e a suspensão sumiu. Atrás da velha cruz agora cinqüenta guerreiros-mortos portavam espadas. A primeira batalha era questão de segundos. O Cavaleiro, empunhando a espada rugiu como uma besta, os mortos do outro lado, grunhiam inumanos. O cão com sua face podre latiu para a noite, uivou, vociferou o alerta da madrugada:

_Na vila do fogo da origem, nenhum vivo entrou, e nenhum morto saiu. Eu sou aquele que guarda. Eu mordi até o pé do Diabo, criança. Você pra mim é mosca.

_Então, eu pintei pra lhe abusa!

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