quinta-feira, 24 de maio de 2007

Capítulo 8 – Na Estrada

Já andavam ha vários sóis e luas. Cícero agora aprendia com seu tutor-escravo. Aprendia sobre tudo, e quanto mais aprendia mais ele descobria que não sabia, inclusive aprendeu que foi um sábio que entendeu isso primeiro. Foi durante as andanças pelo deserto que ele aprendeu a ler, a escrever, a lutar, atirar, usar a espada. A Espada. A espada que foi trazida por um “roninho”, fora assim que O Capitão proclamou. Aprendeu que o homem que a trouxe, na verdade, era um ronin, um guerreiro errante, como agora, também, ele era. Como era estranho ser um errante, um retirante, depois de anos sendo um sedentário de um fio d’água, do Fio D’Água.

Nos dias enquanto andavam, O Andarilho, experiente nas curvas da estrada (mesmo que naquele deserto estrada nenhuma houvesse), lhe ditava a história do mundo, a história que os homens escreveram com sangue, a história que O Criador escreveu com indiferença. Nas noites eles lutavam, para aumentar a destreza do guerreiro. Nas noites eles caçavam, para aguçar os sentidos do caçador. Nas noites ele usava a espada, para purificar a alma do assassino. Assim aos poucos O Cavaleiro ia nascendo. Com a espada do ronin, o winchester do caçador, a jaqueta de Ogum iê, o chapéu do Capitão, ia nascendo do sol ardido do deserto, das noites frias do deserto, dos conhecimentos do tutor, da ânsia de encontrar o Diabo.

Foi no fim de uma manhã, no fim de uma enorme duna, que avistaram, no fim do que um dia foi um vale, a primeira vila desde a partida da vila do Fio D’Água, que já nem existia. O Cavaleiro sentiu na espinha o chamado da espada, sabia que por ali o Diabo tinha pisado. O Andarilho gargalhou ao sentir a sede do Cavaleiro, e continuando as passadas duna abaixo, cutucou em tom de zombaria:

_A sede da guerra é coisa de menino-moço, e isso o Cavaleiro já não é!

_Não sou não Andarilho, mas minha espada é, menina-moça virgem de sangue...

Seguiram a gargalhadas e ao rufar do tambor que agora era o peito de Cícero. Ao cair da tarde entrariam na vila. E sabiam os dois seria uma longa estadia.

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